Resistente aos séculos, a dança do ventre demonstra sua capacidade de reinvenção tanto como música quanto como expressão subjetiva; além de dar novos tons aos seus ritmos tradicionais, mostra hoje sua faceta globalizada. É nesse bojo que podemos colocar a dança do ventre de fusão tribal e sua maior diva: Rachel Brice.
Nascida em São Francisco, Califórnia, no início dos anos 70, Rachel Brice é hoje talvez a mais conhecida dançarina de dança do ventre em todo o mundo. Mas sua formação principal vem da yoga, prática que estudou e lecionou enquanto, paralelamente, trabalhava como quiropata. Sua aproximação com a dança oriental se deu em 1998 quando assistiu a um grupo que se apresentou na Califórnia. A partir daí, começou a aprender alguns passos por conta própria assistindo vídeos da mítica bailarina Suhaila Salimpour. Filmava-se para saber dos andamentos da experiência. Chegou ainda a ingressar num programa universitário de Dança Étnica e, em seguida, foi tomar aulas. Mas os acasos a levaram a prosseguir com a carreira terapêutica, o que a afastou de seu incipiente talento por quatro anos. Brice foi descoberta em 2003 pelo polêmico empresário Miles Copeland, ela passaria a integrar a mega companhia Belly Dance Superstars. A profusão de adornos que fazem o lóbulo de sua orelha despencar sob o peso de duas imensas argolas já mostram que Rachel Brice em pouco se encaixa no estereótipo da dançarina de saias esvoaçantes e jóias douradas; também quase nunca sorri. Essa espécie de desconstrução é uma marca no estilo da dança tribal, talvez um trânsito para fora dos clichês que consagraram no Ocidente a dança egípcia da qual os árabes se apropriaram ao longo de séculos. As vestes de Rachel e suas parceiras de estilos compõem-se de inúmeras moedas de cor fosca, tecidos amarrados, cabelos dreadlock, flores nos cabelos, ossos trançados com couro... objetos aparentemente improváveis se complementam harmônicos. A tentativa de representação se aproxima da música, é um ajuntamento de elementos que remetem a um passado nômade primitivo onde os enfeites são adaptações de coisas encontradas na natureza e/ou retiradas do contato com outras comunidades mais "avançadas"; é assim no caso das moedas e dos espelhinhos, por exemplo. Enquanto isso, no som, as percussões árabes se tornam elétricas e se fundem com a noise music, fazendo do tribal uma vertente de junções de dança do ventre e yoga.
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